18 de maio de 2013
Sem condições de um bom aprendizado
Situação de escolas públicas compromete o ensino. Relatório do TCDF já alertou cenário
Fonte: Jornal de Brasília (DF)
A realidade das Escolas públicas do DF preocupa. Algumas chegam a
passar a impressão de que necessitam ser demolidas e totalmente
refeitas. E os problemas não são novos. Em 2011, relatório do Tribunal
de Contas do DF reprovou 87% das Escolas mantidas pelo GDF.
O documento chamou a atenção para a falta de qualidade das instalações
físicas dos centros educacionais. Dois anos depois, a reportagem do
Jornal de Brasília per - correu alguns dos colégios apontados na época
como os que mais necessitavam de reparos e manutenção, e o cenário
encontrado foi desolador. Ontem, o JB r m os tr ou que a precariedade de
algumas unidades contribui para a evasão Escolar, que chegou a 31,2% no
DF. Em Planaltina, no CEF Juscelino Kubitscheck, avaliado como uma das
Escolas com piores instalações pelo TCDF, quem faz a manutenção da
Escola é a própria comunidade. “Posso afirmar que hoje a Educação não
tem o apoio do GDF para oferecer Ensino de qualidade. Se algo foi feito
aqui é porque nós nos mobilizamos”, destacou o diretor Nilson Carlos. As
salas de aula ainda são de madeira revestida com amianto, composição já
retirada da maioria das Escolas antigas.
O material esquenta as classes e causa desconforto. Não há previsão de
mudança. “O órgão não nos passa prazos. Estamos esperando que aconteça.
Mas, até agora nada”, desabafou o diretor. Em um terreno cedido à
Escola, Docentes decidiram criar uma sala de reforço. Somente com a
ajuda da comunidade e dinheiro dos próprios Professores, a construção
começou a ser feita. E é em um espaço de poucos metros quadrados que
Alunos estudam. A escada foi levantada pelo pai de um Aluno. “Aqui é
comum que os pais façam trabalhos de pedreiro e marceneiro”, disse o
diretor do colégio. A questão da acessibilidade é outro problema.
Fundada há 22 anos, em um terreno curvo, a Escola é repleta de escadas
por toda parte, e as rampas são poucas. A quadra poliesportiva também
pede socorro.
Construção
Em outra ponta do DF está a Escola Classe 7, em Ceilândia. Construída
em 1974, a unidade é rodeada por pontos de tráfico. Segundo o supervisor
Théo Oliveira, a área é delicada e nunca teve nenhum tipo de
investimento do GDF, fora o metrô. “Este lado Oeste parece desprezado
pelo Estado”, avaliou. Dentro da Escola, o cenário também é triste. Por
medidas de segurança, grades enferrujadas cercam os Alunos.São
carteiras, paredes, banheiros e portas estragadas e pichadas. A quadra
não possui cobertura, o que impede a utilização em dias de calor e seca.
A quadra de basquete não possui cestas. A pista de atletismo virou um
amontoado de terra. A previsão de que a realidade mude é emsetembro.
“Haverá investimento de R$ 6 milhões para reforma da Escola”, informou o
supervisor.
Ponto de vista
Doutor em Educação da Universidade Católica (UCB), Afonso Galvão avalia
que falta inspeção nas Escolas por parte da Secretaria de Educação. Ele
declara ainda que visita regularmente alguns centros de Ensino e,
segundo ele, a situação continua precária, principalmente nas regionais
de áreas periféricas. “São detalhes que colocam em risco a segurança das
crianças ”, aponta. Para ele, a secretaria centraliza as reformas e
reconstruções de Escolas, o que dificulta o processo. “Se não houvesse
toda a burocracia que existe hoje, provavelmente os colégios não
estariam no estado em que se encontram”, salienta o especialista.
Problemas de alunos e professores
Ainda em Ceilândia, outro centro de Ensino, de número 25, não mostrou
grandes mudanças nos últimos anos. A reportagem conseguiu ter acesso ao
local, com autorização da direção. Porém, depois de alguns minutos de
conversa e questionada sobre as paredes, tetos e portas quebradas, a
coordenação impediu que a apuração seguisse adiante.
O colégio não tem, inclusive, quadra esportiva. A justificativa é de
que houve atraso na obra, que deveria ter sido iniciada em janeiro
último. Já no Centro de Ensino fundamental 11 de Taguatinga, a situação é
precária. O local, que nunca passou por uma reforma, conta com
ambientes em estado de degradação. De acordo com o vice-diretor Ricardo
Paes Pacheco, a verba disponibilizada pela Secretaria de Educação é
destinada somente para pequenos ajustes. “A estrutura é a mesma desde
1966. Alguns ajustes vêm sendo feitos, mas não são suficientes”,
declarou. Segundo Paes, os problemas refletem diretamente no processo de
aprendizagem. “A acústica, a iluminação e ventilação são péssimas”,
destacou.
Ele conta que o estado da Escola ocasiona problemas aos Professores.
“Uma Professora já sofreu um acidente vascular cerebral em sala de
aula”, relatou. Outro problema relatado é a burocracia para usar as
verbas do governo.
Versão oficial
Questionada sobre a estrutura das Escolas, a Secretaria de Educação
afirmou que possui uma série de reformas e manutenção agendadas para
2014. Além disso, disse que a Coordenação de Obras da pasta está
intervindo em várias frentes. Algumas Escolas estão passando por
manutenções, outras por reformas, reconstruções, e outras estão sendo
erguidas.
Quanto ao serviço de manutenção, durante todo o ano, apontou a
secretaria, a rede de Ensino está coberta por contratos com dez
diferentes empresas que prestam os serviços. Nove Escolas estão sendo
reformadas ou reconstruídas. Sobre os centros de Ensino visitados pela
reportagem, a resposta do órgão foi de que estão em manutenção.
No CEF 11 de Taguatinga, por exemplo, a pasta informa que foi feita a
revisão das instalações elétricas com substituição e/ou colocação de
fios, lâmpadas fluorescentes, interruptores e tomadas; reposição e/ou
colocação de fechaduras de embutir e grades de proteção em portas e/ou
janelas; demolição de cobertura com telhado ondulado de fibrocimento e
execução de cumeeira e cobertura com telha de fibrocimento. Já no CEM
Setor Leste houve a recuperação do sistema de abastecimento de água,
impermeabilização da caixa d´água, execução de alambrado, portão em
alambrado e pintura, entre outros reparos diversos mencionados em nota.
Dificuldade na Asa Norte
Para a vice-diretora da Escola Classe da 115 Norte, Lúcia Helena
Carvalho, a falta de segurança da Escola é uma das grandes preocupações.
“Temos apenas uma grade, que é muita baixa e facilmente pode ser
pulada. Temos muito medo disso”, afirmou. A falta de espaço também é uma
dificuldade. “N ão temos área de lazer.
Por isso, durante o intervalo dividimos as turmas em três partes. Em
função disso, alguns têm que ficar do lado de fora da Escola. É claro
que estão sempre acompanhados dos Professores, mas o ideal é que
tivessem um espaço aqui dentro”, declarou. Outro ponto apontado é o
estado da caixa d´água: “Sempre que fazem manutenção nos alertam que ela
está balançando. Isso é perigoso. Já procuramos a secretaria, mas fomos
informados que a verba não pode ser usada para este fim, por se tratar
de um problema estrutural”. Segundo ela, a Escola tem uma preocupação
especial com a marquise da entrada da Escola. “Achamos que ela está meio
torta”, apontou a Educadora.
Ministério Público
A promotora de Educação Márcia Pereira Rocha afirmou que os reparos
simples, como pinturas das paredes, não resolvem o problema das Escolas.
“O DF ainda não conseguiu dar prioridade à Educação”, disse. Na
tentativa de recuperar as Escolas, foi firmado um Termo de Ajustamento
de Conduta (TAC) com algumas regionais.
Fonte: http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/26969/sem-condicoes-de-um-bom-aprendizado/